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A escola promovendo a saúde

O adoecimento do professor é o adoecimento da escola e, consequentemente, o adoecimento da educação.

Sheila Mourão

16/01/23

O adoecimento do professor é o adoecimento da escola e, consequentemente, o adoecimento da educação.

Muito se discute sobre o relevante papel da educação na vida do ser humano. Fala-se da importância de boas escolas, de materiais didáticos atualizados e da necessidade de professores que estejam em permanente formação para que aperfeiçoem suas habilidades em ministrar aulas seguindo as melhores e mais atuais metodologias de ensino. Mas, esse mesmo empenho não vem sendo aplicado na promoção da saúde física e mental do profissional de educação no exercício da profissão.


Com longas jornadas de trabalho combinadas com uma rotina intensa de diferentes afazeres na instituição, o profissional da educação tem visto tornar-se normal estender suas horas de trabalho para casa, quando aquele deveria ser seu local de descanso. Além disso, a problemática da indisciplina das crianças e jovens, o abuso sofrido por parte de pais e responsáveis tem sido de um peso descomunal para esse profissional, levando-o ao adoecimento físico e emocional. Professores são, portanto, um grupo de risco.


Um desses danos que vem acometendo os educadores é a Síndrome de Burnout, que é considerada pelo Ministério da Saúde como uma doença ocupacional, classificada como transtorno mental por se tratar de um fenômeno psicossocial relacionado ao contexto laboral. São três as dimensões da síndrome que geram sentimentos de ineficácia e incompetência em relação às atividades laborais: exaustão emocional,  despersonalização e baixa realização pessoal no trabalho.


1. Exaustão emocional que é caracterizada pela falta ou ausência de energia e entusiasmo, situação em que muitos profissionais sentem que não podem dar mais de si mesmos. Sentem-se esgotados devido ao contato diário com os problemas; 


2. Desumanização (Despersonalização) refere-se a sentimentos e atitudes negativas, cinismo em relação aos seus alunos, pais de alunos, colegas de trabalho. Há um endurecimento afetivo prejudicando as relações interpessoais; 


3. Baixa realização pessoal no trabalho é uma combinação entre Exaustão Emocional e Despersonalização, visto que considerando uma situação de trabalho com demandas crônicas de exaustão e despersonalização é provável que ocorram sentimentos de ineficácia e incompetência com as atividades laborais. A exaustão emocional advinda desse processo pode levá-lo a perder o controle sobre seu trabalho e entrar em burnout.


A exaustão é a dimensão mais preocupante, visto que profissionais acometidos com a síndrome se sentem exaustos física e emocionalmente constantemente. Por isto consideramos que este grupo específico de profissionais necessita que determinados comportamentos defensivos sejam identificados e entendidos, não os confundindo com sintomas de depressão.


A pessoa acometida com burnout pode apresentar nervosismo, cansaço excessivo físico e mental, prostração, dor de cabeça frequente, pressão alta, dores musculares, problemas gastrointestinais, alterações nos batimentos cardíacos, alterações no apetite e no humor, insônia, dificuldade de concentração, sentimentos de fracasso, incompetência e insegurança, negatividade constante e isolamento. É importante identificar a síndrome para evitar que esses e outros sintomas sejam tratados isoladamente, confundidos com outras condições patológicas.


Compreender a causa do adoecimento do profissional da educação brasileira é fundamental para a criação, implantação, prevenção e promoção de saúde a esse trabalhador, contribuindo assim para a melhoria da qualidade da educação no Brasil. 

Listamos algumas estratégias necessárias a uma escola promotora da saúde:


  • Cuidar de sua infraestrutura de tal modo que se converta em um lugar acolhedor e agradável para todos os que nela convivem;

  • Utilizar-se de diálogo na resolução de problemas, de maneira que sua solução eleve a autoestima e estimule a tomada de decisões conscientes sobre o estilo de vida;

  • Desenvolver as capacidades necessárias para identificação dos fatores de risco no trabalho;

  • Compreender e interpretar os sinais de cansaço e de estresse não expressos verbalmente, mas manifestados fisicamente bem como nas atitudes;

  • Estar atento, na elaboração da estrutura curricular, à adequação de conceitos, habilidades e atitudes que permitam realizar ações individuais e coletivas que melhorem a qualidade de vida e favoreçam as relações interpessoais; 

  • Realizar atividades que favoreçam as relações interpessoais;

  • Tomar decisões cotidianas que ajudem os profissionais a desenvolverem uma visão crítica e solidária;

  • Proporcionar programas ergonômicos que privilegiem cuidados com o corpo e a mente e desenvolver atividades que envolvam comunidade educativa e família.


A psicoterapia é fundamental nesse processo de controle, potencializando os efeitos de medicamentos, quando for o caso, e auxiliando na ressignificação da história de vida do sujeito. 


A Síndrome de Burnout tem se tornado parte da vida do professor, como delineado atualmente no país. Esse grupo específico de trabalhadores necessita de políticas públicas específicas que venham a acolhê-los dentro desta necessidade para evitar que se percam profissionalmente e que a educação não perca sua vitalidade e função primeira por conta da falta de cuidados específicos necessários à prevenção, diagnóstico e combate ao adoecimento de seus profissionais. A escola verdadeiramente inclusiva é promotora da saúde e bem-estar do ser humano, seja ele quem for nos vários papéis exercidos no ambiente educacional.

Sheila Mourão é pedagoga, especialista em Psicopedagogia, mestra e doutoranda em Educação

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